Rádio telemetria em estudos de Ecologia de Estradas

Tempo de leitura: 7 minutos

Série Infraestrutura Viária & Biodiversidade | Métodos e Diagnósticos

Produtos disponíveis


Power ML, Emery S, Gillings MR (2013) [CC BY 2.5 (https://creativecommons.org/licenses/by/2.5)], via Wikimedia Commons

A Série Infraestrutura Viária & Biodiversidade | Métodos e Diagnósticos é um conjunto de 14 post semanais. Cada post apresentará de forma rápida um tema atual em Ecologia de Estradas. Os temas abordarão monitoramento de fauna atropelada, monitoramento de pequenos mamíferos, telemetria, inteligência geográfica, impactos de rodovias em peixes e muito mais.

Nosso quarto post da Série abordará a análise do comportamento espacial com o uso da telemetria . Vários dos posts dessa série são adaptações de textos produzidos por autores externos ao B.A.B..

Autores

Paula E. R. D’Anunciação , Clara Grilo

Resumo

Os animais se movimentam para satisfazer os requisitos básicos de sobrevivência e para se adaptarem às diferentes pressões ambientais e antrópicas. A compreensão destes movimentos é crucial para determinar o uso do espaço pelas espécies e como respondem às alterações da estrutura da paisagem.

Uma das técnicas mais utilizadas para alcançar tais objetivos é a radiotelemetria, também conhecida por rastreamento via rádio ou rádio rastreamento, que consiste em uma coleta de dados remota através de sinais de rádio. O objetivo deste texto é descrever brevemente tal procedimento e seu uso em estudos de Ecologia de Estradas. Neste contexto serão apresentandos os seus componentes, os tipos de técnicas, os diferentes desenhos experimentais, as limitações da técnica e salientar a importância da quantificação do erro de localização e dos efeitos dos transmissores nos animais marcados.

São também discutidos os principais tipos de análise empregada em estudos conduzidos por rádio rastreamento. No final do texto são apresentados alguns estudos de caso que usam a técnica para determinar o efeito de rodovia em certas espécies.

Importância da telemetria

Em ecologia de estradas este método tem sido aplicado para avaliar os efeitos das rodovias nas espécies e determinar os locais mais adequados para implementar as medidas de mitigação. O registo de localizações consecutivas num curto espaço de tempo permite definir a configuração das suas áreas de vida, avaliar o uso do espaço tendo em conta a distância da rodovia em que as localizações são efetuadas e a sua relação com vários parâmetros das estradas.

É possível também quantificar o uso de passagens existentes, e o efeito da presença de vedação ao longo da rodovia e ainda caracterizar os locais preferenciais de travessia das rodovias e os locais de maior incidência de mortalidade por atropelamento.

Estudo de caso

Effects and mitigation of road impacts on individual movement behavior of wildcats (Klar, Herrmann, and Kramer-Schadt 2009)

O objetivo deste estudo era determinar a efetividade do cercamento de estradas na prevenção de atropelamentos e avaliar o uso de tipos diferentes de passagens por gatos selvagens Felis silvestris. Doze gatos selvagens foram rádio rastreados durante a fase de construção da estrada e na fase de operação, momento esse no qual foi instalada a cerca por um período total de quatro anos.

O erro foi calculado através da localização de rádio colares escondidos em diferentes alturas e posições conhecidas da área de estudo. Para determinar a efetividade do cercamento, o número de atropelamentos foi comparado entre três trechos com diferentes tipos de cercas. Nessa comparação a área de atividade individual foi delimitada utilizando o mínimo polígono convexo.

Cada polígono foi calculado usando as localizações anuais e a composição delas (todos os dados) para cada gato. Cerca de 100 linhas aleatórias foram distribuídas dentro de cada polígono individual. As frequências de travessia foram contadas para as linhas aleatórias (controle) como para as estradas (área impactada) e foram ajustadas para o comprimento da linha. As médias de frequência de travessia das linhas aleatórias foram comparadas com a frequência de travessia das estradas para cada indivíduo através do teste de Wilcoxon pareado.

Para avaliar se a estrada exercia efeito barreira para os gatos, o número de travessia foi comparado entre o período de construção e operação da estrada. Para essa análise foi calculado a atividade locomotora dos gatos para todas as localizações em um intervalo de 30 min. Então a distância entre duas localizações foi dividida pela diferença do tempo. A velocidade média para cada hora do dia e para todos os gatos foi calculada. Para definir o tempo de travessia, foram considerados apenas eventos derivados de duas localizações dentro de uma hora. 

Cada gato foi rastreado em média durante 15,5 meses, sendo oito dias/mês de localizações realizadas no período diurno e dois dias/mês de localizações durante a noite. No total foram 24 noites de radio-rastreamento por gato, com 16-48 localizações e 96 dias com 2-6 localizações, somando 13.000 localizações.

Além de determinar e reportar o erro associado à técnica utilizada, esse trabalho utilizou mais de um método para determinar a localização dos animais. Triangulação e homing, inclusive rastreamentos noturnos foram utilizados para verificar com maior precisão a localização. Para determinar a preferência de passagens, foram considerados apenas os eventos de travessia dentro de 15 min da última localização. E ainda, a confirmação do uso da passagem apenas foi realizada quando o observador teve certeza da localização no outro lado da via.

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O capítulo tem 20 páginas e um conteúdo incrível, com a seguinte estrutura de tópicos:

  • Introdução
  • A telemetria
    • Componentes e tipos de técnicas
    • Desenho Experimental
    • Efeitos dos transmissores nos indivíduos marcados
    • Erro de localização
    • Limitações da telemetria
  • Análise de dados
    • Cálculo das áreas de vida
    • Avaliação do uso do espaço e a direcionalidade dos movimentos
    • Análise das características das travessias com sucesso e os atropelamentos
  • Estudos de caso
    • Effects and mitigation of road impacts on individual movement behavior of wildcats (Klar, Herrmann, and Kramer-Schadt 2009)
    • Individual spatial responses towards roads: implications for mortality risk (Grilo et al. 2012)
    • Variation in elk response to roads by season, sex, and road type (Montgomery, Roloff, and Millspaugh 2013)

Se você é estudante, pesquisador ou profissional e desenvolve ações e/ou estudos do comportamento espacial da fauna, esse conhecimento é imprescindível.


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Veja alguns outros trabalhos sobre o uso de telemetria:

Aarts, G. et al. 2008. “Estimating Space-Use and Habitat Preference from Wildlife Telemetry Data.” Ecography 31(1): 140–60. Amundson, C. L., and T. W. Arnold. 2010. “Effects of Radiotransmitters and Plasticine Bands on Mallard Duckling Survival.” Journal of Field Ornithology 81(3): 310–16.

Amelon S.K., D.C. Dalton , J.J. Millspaugh and S.A. Wolf. 2009. Radiotelemetry techniques and analysis. In: Kunz T.H., Parsons S. (Eds.). Ecological and behavioural methods for the study of bats. Johns Hopkins University Press, Baltimore. 57–77.

Frair, J.L. et al. 2010. “Resolving Issues of Imprecise and Habitat-Biased Locations in Ecological Analyses Using GPS Telemetry Data.” Philosophical transactions of the Royal Society of London, 365(1550): 2187–2200.