Quanto tempo devo monitorar ?

Quanto tempo devo monitorar ?

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Série Monitoramento de Fauna Atropelada | Dica 5

O quinto post da Série Monitoramento de Fauna Atropelada eu explico que diferentes perguntas requerem diferentes esforços amostrais.


Provavelmente essa seja A pergunta que mais intriga e preocupa todos os pesquisadores e consultores que buscam avaliar os efeitos de rodovias e ferrovias na biodiversidade. Já participei de vários workshops que discutem este tema e percebo que a maioria das regras são puros “achômetros” sem qualquer tipo de embasamento científico.

O que dizem os termos de referência e legislação?

As regras mais empregadas para o licenciamento ambiental de rodovias falam em amostragens sazonais, ou seja, quatro por ano, e com duração de 5 a 7 dias a cada amostragem.

A primeira questão é, baseado em que? Outro ponto é, quais perguntas queremos responder com essa coleta de dados?

Por incrível que pareça, a quase totalidade dos TRs não possuem perguntas à serem respondidas, apenas exigem o monitoramento.

Geralmente a pré-definição do número de amostragens é uma exigência econômica, para que os empreendedores possam planejar seus custos de coleta de dados. Neste caso o interesse ambiental é sobrepujado pelo econômico e os estudos de licenciamento apresentam dados inconclusivos.

Riqueza, variação sazonal, hotspots de atropelamento?

Um estudo poderia desejar “apenas” conhecer as espécies mais afetadas em uma determinada rodovia. 

Eu testei essa pergunta quando publiquei o artigo “Influence of Sampling Effort on the Estimated Richness of Road-Killed Vertebrate Wildlife“. Nele a riqueza observada nas amostras semanais foi comparada com a amostragem para diferentes períodos (quinzenal, mensal, bimestral e trimestral). 

Constatei que amostragens quinzenais são tão boas quanto as semanais para se identificar as principais espécies atropeladas. As dez espécies mais afetadas apresentaram taxas de mortalidade constantes, independentemente do intervalo de amostragem e também mantiveram a sua estrutura de dominância. O mais incrível é que a principais espécies de mamíferos são conhecidas após sete dias de amostragem. Isso deve ocorre porque nossas espécies têm baixa sazonalidade. 

E se eu quiser avaliar sazonalidade ?

Avaliar os efeitos do clima, de tráfego, períodos reprodutivos e de dispersão requerem muito mais esforço. Se seu estudo está focado em mamíferos, o problema será mais fácil, mas os répteis e anfíbios são extremamente sazonais.

A figura abaixo mostra como diferentes espécies possuem diferentes épocas para estarem mais suscetíveis ao atropelamento, indicando a importância da constância do monitoramento durante todo o ano.

Variação sazonal das taxas de mortalidade de Helicops Infrataeniatus, Myocastor coypus e Didelphis albiventris em 2002 (a) e 2005 (b). Cada ponto no eixo X é uma média de taxas de atropelamento para os dez períodos de amostragem semanal.

No gráfico é possível observar que o mamífero ratão-do-banhado (Myocastor coypus) é mais atropelado quando a cobra (Helicops Infrataeniatus) praticamente não é morta sobre a rodovia. No caso destas espécies, a maior mortalidade de ratão está relacionada a elevação do nível da água dos banhados e a sua fuga para o talude das rodovias. Isto ocorre no inverno, período de baixo deslocamento de cobras devido ao frio.

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