Espécies dominantes determinam o padrão espacial de atropelamento em ferrovias?

Espécies dominantes determinam o padrão espacial de atropelamento em ferrovias?

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Trabalho apresentado no III Congresso Iberoamericano de Biodiversidade e Infraestrutura Viária (CIBIV 2020)

Autores.- Bibiana Terra Dasoler de Oliveira, Andreas Kindel, Larissa Oliveira Gonçalves, Rubem Dornas & Fernanda Zimmermann Teixeira

bibianadasoler@gmail.com

Medidas de mitigação estão sendo aplicadas para reduzir as fatalidades nas infraestruturas lineares, mas a decisão da melhor localização para essas medidas é sempre um desafio. Usar o padrão espacial de um conjunto de dados de múltiplas espécies para planejar mitigação pode ignorar ou desvalorizar espécies que são menos comuns nos registros de fatalidades em ferrovias, mas que demandam tanta ou mais preocupação do que espécies comuns.

Nosso objetivo foi avaliar se a inclusão ou não de uma espécie dominante em conjuntos de dados de múltiplas espécies estaria mascarando espécies menos registradas em análises de agregação de fatalidades. Espécies com poucos registros podem ser alvos importantes para mitigação, mas em muitos casos não há dados suficientes destas espécies para a aplicação de análises espaciais.

Utilizamos dados de fatalidades coletados em duas ferrovias brasileiras, uma no Cerrado e outra na Amazônia. Identificamos segmentos com agregações de fatalidades para cada conjunto de dados de múltiplas espécies (com e sem espécies dominantes). A seguir, calculamos o percentual de fatalidades de cada alvo de mitigação nos segmentos de agregação e comparamos o percentual cumulativo dessas fatalidades para cada alvo presente nesses segmentos em cada conjunto de dados. A partir desse percentual cumulativo, identificamos qual conjunto de dados seria melhor para o planejamento de mitigação dos alvos de mitigação (espécies menos registradas).

Na ferrovia do Cerrado, quando retiramos a espécie majoritariamente dominante do conjunto de dados (Euphractus sexcinctus), todos alvos de mitigação avaliados tiveram um maior percentual de fatalidades localizado nos segmentos com agregação (p. ex. Myrmecophaga tridactyla e Tapirus terrestris). Para a ferrovia da Amazônia, ao excluirmos as espécies mais dominantes do conjunto de dados (Cerdocyon thous e Tamandua tetradactyla), metade dos alvos de mitigação tiveram mais fatalidades dentro dos segmentos (p. ex. Bradypus variegatus, Dasypus novemcinctus e Hydrochoerus hydrochaeris).

Isso significa que, para que a mitigação contemple as espécies menos registradas, análises espaciais para identificação dos 104 segmentos com agregação de fatalidades excluindo espécies muito dominantes podem ser mais adequadas. Para melhorar a tomada de decisão durante o planejamento de mitigação para múltiplas espécies, as espécies consideradas prioritárias para a conservação devem ser avaliadas separadamente das demais.

Uma importante contribuição para o planejamento da mitigação em países megadiversos, considerando as limitações de orçamento, seria identificar qual conjunto de dados de múltiplas espécies indicaria o local de mitigação para um percentual maior de fatalidades de diferentes alvos de mitigação em um percentual menor da ferrovia.