Modelagem de áreas críticas de atropelamento de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) no Brasil

Modelagem de áreas críticas de atropelamento de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) no Brasil

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Trabalho apresentado no III Congresso Iberoamericano de Biodiversidade e Infraestrutura Viária (CIBIV 2020)

Autores.- Érika Paula Castro, Rosângela Alves Tristão Borém & Alex Bager

erika.castro@ecoestradas.org

Infraestruturas viárias são imprescindíveis para o desenvolvimento social e econômico do país e estão em constante ampliação, uma vez que permitem conectar áreas remotas e transportar cargas e passageiros por todo o território nacional. A implantação destes empreendimentos gera impactos no sobre a biodiversidade local, dentre eles tem-se o atropelamento de fauna.

O presente trabalho encontra-se em andamento e tem por objetivo gerar um modelo de áreas críticas de atropelamento para uma espécie de canídeo generalista, amplamente distribuída no território nacional, o Cachorro-do-mato (Cerdocyon thous).

O modelo de áreas críticas de atropelamento será construído integrando as áreas de potencial ocorrência da espécie e as caraterísticas das rodovias. Possuímos 3835 dados de ocorrência da espécie, coletados entre os anos de 2000 e 2019. Como a maioria destes registros são provenientes de atropelamento, os modelos de distribuição potencial a serem produzidos apresentam um viés para áreas de ocorrência destes eventos, desta forma adotaremos o nome “Áreas Potenciais de Atropelamento” (APA). Para delimitar as APAs será utilizado o software Maximun Entropy algorithm (MaxEnt) e se utilizará de variáveis ambientais (n=22) disponíveis em diferentes bases, tais como IBGE, IPEF, INPE e WorldClim.

Serão construídos seis modelos de distribuição potencial, um para cada bioma terrestre brasileiro. O conjunto de variáveis a serem utilizadas para cada bioma será definido a partir de uma análise de autocorrelação. Já os dados de ocorrência foram segmentados por bioma e avaliados quanto autocorrelação espacial (raio de 5km) e duplicidade. Os resultados aqui apresentados resumem as análises realizadas para o bioma Pampa, considerando apenas a modelagem de distribuição potencial de atropelamento.

Foram gerados modelos experimentais (n=18) com o intuito de avaliar a metodologia adotada. Do total de registros, 616 se encontravam no bioma Pampa, mas utilizamos 137 deles para o modelo. O melhor modelo foi composto por quatro variáveis e apresentou AUC = 0,8313. A contribuição das variáveis para explicação do modelo foram: Vegetação = 38,04%, Altitude = 29,82%, Faixa anual de temperatura = 26,88% e Densidade de drenagem = 5,26%. Para o bioma Pampa, as 122 APAs estão localizadas na planície costeira, a qual se caracteriza por vegetação de restinga e baixas altitudes (~20 metros).

As variáveis encontradas para este bioma não necessariamente serão as mesmas para o restante da área de distribuição da espécie, uma vez que o C. thous possui hábitos generalistas e oportunistas. Os próximos passos envolverão a sobreposição dos resultados dos modelos potenciais para cada bioma e as características de rodovia e tráfego. Após esta etapa é esperado um refinamento destas informações e definição das áreas críticas de atropelamento. Este trabalho está sendo realizado com uma espécie altamente resiliente. Portanto, espera-se desenvolver uma metodologia de análise que possa ser aplicada para outras espécies, contribuindo para o planejamento regional através da definição de áreas críticas de atropelamento.