Impacto de rodovias sobre a fauna.- modelagem de nicho ecológico

Impacto de rodovias sobre a fauna.- modelagem de nicho ecológico

Tempo de leitura: 3 minutos

Trabalho apresentado no III Congresso Iberoamericano de Biodiversidade e Infraestrutura Viária (CIBIV 2020)

Autores.- Ana Gabriela Kolde Ohi & Tiago da Silveira Vasconcelos

ana.gko99@gmail.com

As rodovias causam diversas ameaças à fauna, dentre elas a fragmentação de hábitat, o efeito de borda e a formação de barreiras. Na busca por estratégias de conservação é interessante o uso de ferramentas preditivas, como a modelagem de nicho ecológico, que utiliza fatores ambientais para inferir a distribuição de espécies. Assim, objetivou-se realizar a modelagem com espécies vulneráveis à malha viária e comparar os resultados com informações a respeito da distribuição de rodovias.

Foram selecionadas três espécies de mamíferos da ordem Primates incluídas no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção que são sensíveis às interferências ambientais e ocorrência em regiões mais impactadas por rodovias: Alouatta guariba clamitans, Callicebus barbarabrownae e Callicebus coimbrai. As predições das distribuições das espécies foram geradas em funções de variáveis climáticas e de hábitats selecionados, produzidos por cinco algoritmos, sendo que os mapas finais foram considerados em uma abordagem combinada pela média dos valores de adequabilidade obtidos para cada grid de cada algoritmo.

Todo o procedimento de modelagem foi realizado no ambiente R utilizando o pacote sdm. Dados obtidos pelo portal Diva-GIS (https://www.diva-gis.org/gdata) foram usados para calcular a densidade de rodovias ao longo da extensão de ocorrência das espécies, permitindo então comparações qualitativas entre as áreas de modelagem das espécies com a densidade de malha viária.

De maneira geral os mapas corresponderam com o esperado para as espécies. Altas densidades da malha viárias em pontos específicos no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul podem representar maior vulnerabilidade para populações de A. guariba clamitans em áreas de alta adequabilidade de nicho da subespécie na região, o que por outro lado se tornam áreas candidatas para elaboração de passagens de fauna como medidas de conservação e manejo para a espécie.

No caso de C. barbarabrownae, a alta densidade de rodovias em pontos específicos da região costeira de Sergipe, Alagoas e Bahia não sobrepõem com regiões de alta adequabilidade de ocorrência da espécie. Para esta espécie, cautela com a malha viária deve ser tomada apenas para poucas regiões no interior da Bahia, onde alta adequabilidade 48 de ocorrência foi encontrada para a espécie.

Para C. coimbrai, a região metropolitana das capitais de Sergipe (Aracajú) e Bahia (Salvador) tornam-se críticas para as populações desta espécie, visto a alta adequabilidade de ocorrência da espécie que se estende desde o recôncavo baiano (ao sul) até o rio São Francisco no Sergipe (ao norte). Estas duas áreas se tornam potencialmente importantes para construção de passagem de fauna e conservação da espécie.

O próximo passo deste estudo é incluir a distribuição da densidade de rodovias no processo de modelagem de distribuição das espécies para identificação efetiva de áreas de ocorrência das espécies vulneráveis às malhas viárias.