Vertebrados atropelados em diferentes estradas no semiárido

Vertebrados atropelados em diferentes estradas no semiárido

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Trabalho apresentado no III Congresso Iberoamericano de Biodiversidade e Infraestrutura Viária (CIBIV 2020)

Autores.- Ayko Reinaldo Shimabukuro, Raul dos Santos, Kauane Monique Alves Freitas, Itainara Taili da Silva Freitas & Cecilia Calabuig

ayko_shimabukuro@yahoo.com.br

Estudos que busquem compreender fatores que facilitam o atropelamento de vertebrados são essenciais para nortear medidas mitigadoras. O presente estudo quantificou, por Classe, a mortalidade de vertebrados em três perfis de estradas diferentes de forma simultânea com o objetivo de: a) comparar o número de atropelamentos para a mesma Classe nos diferentes perfis de estrada e b) comparar a mortalidade entre Classes nos diferentes perfis de estrada.

Os monitoramentos ocorreram entre junho de 2016 a maio de 2017 com intervalos de 20 dias em estradas do entorno da Unidade de Conservação Federal Parque Nacional da Furna Feia, localizada no Rio Grande do Norte e os perfis de estradas foram: estrada nacional (BR) com acostamento e maior fluxo de veículos (>700/h); estrada estadual pavimentada sem acostamento e com fluxo médio de veículos (>299-699/h) e estrada estadual de terra sem acostamento e com fluxo baixo de veículos (<299/h). A extensão percorrida por monitoramento foi de 146km.

Para análise de dados, utilizamos a mortalidade corrigida pelo número de quilômetros como variável dependente e a Classe ou o perfil da estrada como variável explicativa, usando um teste não-paramétrico de Kruskal- Wallis. Adicionalmente e como dado informativo foram calculadas as diferentes taxas de atropelamento (número de animais mortos/km percorridos/saídas realizadas).

Ao todo foram registradas 170 vítimas. Dessas, 39 eram da Classe Amphibia (23%), 56 eram Aves (33%), 59 eram Mammalia (35%) e 16 eram Reptilia (9%). A taxa de mortalidade total foi de 0,097. Quando comparada a mortalidade entre os grupos, os dados mostraram que a Classe Mammalia foi a mais impactada, seguida por Aves, Amphibia e Reptilia. Ao comparar a mortalidade entre os perfis das estradas, observou-se que houve maior mortalidade na RN pavimentada, seguida pela BR e logo a estrada de terra (H=8,433; p=0,006).

Ao comparar a mortalidade de cada Classe entre os perfis, observou-se que: a) sem diferenças estatísticas, Amphibia foram mais atropelados na RN pavimentada (p=0,097); b) para Aves a mortalidade 52 foi maior na BR seguida pela RN (H= 7,784; p= 0,012); c) para Mammalia a mortalidade foi maior na RN seguida pela BR (H=8,983; p=0,007); e d) para Reptilia, apesar de não haver diferenças estatísticas entre o número de animais mortos por perfil de estrada, um p valor marginal (H=3,297; p=0,057) indica uma maior mortalidade na BR seguida pela estrada de terra.

De modo geral, a presença de pavimentação e o alto fluxo de automóveis na BR favorecem os acidentes. Apesar disso, a ausência de acostamento na RN pode ter sido um fator que impediu o uso de um local como ponto de espera para os animais antes de cruzar a pista; e, também pode ter impedido que condutores pudessem desviar de animais que cruzavam a estrada. Essa pode ser a explicação para o maior atropelamento das Classes Mammalia e Amphibia neste perfil de estrada.

Em estradas de terra, os acidentes foram menos frequentes devido à falta de pavimentação que acaba por reduzir a velocidade dos veículos. Ainda, acredita-se que os veículos nas estradas de terra criam vibrações no solo que afugentam alguns animais.