É o lobo

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A tragédia de uma história de sucesso

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Você não pode deixar de ver a história no final do post

Os lobos sempre estiveram presentes na infância das crianças. Pelo menos nas crianças de mais de 30 ou 40 anos. Nós, acima desta faixa etária, assistimos muitos desenhos e escutamos histórias de ninar com disco de vinil e vitrola.

Nossa concepção sempre foi de que os lobos são maus, afinal o que seriam os Três Porquinhos e o Chapéuzinho Vermelho sem os lobos. Na verdade os lobos sempre sofreram muito nas mãos dos “heróis” das histórias e devemos muitas horas de boas risadas a esse grupo de animais.

Para @s saudosistas ou para quem realmente nunca teve o prazer de assistir, segue uma pérola do passado (É o lobo) e o lobo/coiote que mais sofreu na mão de uma ave (Papaléguas).

Assim como nestas histórias, os lobos da vida real sofrem os mais diversos impactos, mas infelizmente não retornam no próximo episódio para mais aventuras.

No Brasil, o nosso representante entre os lobos é denominado de lobo-guará.

O lobo-guará, cientificamente conhecido como Chrysocyon brachyurus, é o maior canídeo da América do Sul. Sua forma é adaptada para o bioma Cerrado, tendo patas longas e finas. Essa forma permite caminhar facilmente sobre as gramíneas que encontra nos campos das áreas que habita.

Ao contrário do imaginário popular, a espécie é onívora, comendo pequenos animais como os roedores, e frutas. A lobeira (Solanum lycocarpum), como o próprio nome diz, é um dos seus itens preferidos.

O lobo tem sua distribuição vinculada ao Cerrado, mas também se distribui nos estados do sul do Brasil e litoral dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Ou seja, ocorre tanto no Cerrado, como em porções da Mata Atlântica e do Pampa. Atualmente as maiores densidades de animais estão em duas Unidades de Conservação (Parque Nacional da Serra da Canastra e Parque Nacional das Emas).

Pela última lista de espécies ameaçadas de extinção (Portarias MMA nº 444/2014 e nº 445/2014), o lobo-guará é listado como Vulnerável à extinção. Este status de conservação se dá porque a maior parte da distribuição da espécie está no Cerrado, mas a avaliação para o Pampa é muito mais crítica. Neste bioma, devido existirem menos de 50 indivíduos, a espécie é tida como Criticamente Ameaçada.

O desmatamento é considerado o maior impacto à conservação da espécie. Isso se deve a grande perda anual de ambientes naturais de Cerrado (aproximadamente 1,34%/ano). Para que se tenha ideia, as estimativas mostram que 30% da população deixará de existir em pouco mais de 20 anos.

Além do desmatamento, as doenças, a retaliação à predação de animais domésticos e o atropelamento são apontados causas complementares de impactos e da intensificação da vulnerabilidade da espécie.

 

Quem cuida do lobo-guará?

Assim como todas as espécies ameaçadas de extinção, o órgão federal responsável pela conservação do lobo-guará é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Dentro do ICMBIO, há um Centro de Pesquisa, o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), que é responsável por propor as políticas públicas de conservação do lobo.

Entre as políticas propostas, em 2009 foi elaborado o Plano de Ação Nacional (PAN), com 52 ações que nortearam pesquisas, legislação e investimentos na conservação da espécie. Este documento foi denominado de PAN Lobo-guará e foi concluído em 2016. Pode ser acessado clicando aqui

 

Alguns dos principais especialistas em lobo-guará são:

  • Rogério Cunha de Paula – CENAP/ICMBio
  • Flávio Henrique Guimarães Rodrigues – Universidade Federal de Minas Gerais
  • Diego Queirolo – Centro Universitario de Rivera, Uruguay
  • Rodrigo Pinto Silva Jorge – CBC/ICMBio
  • Frederico Gemesio Lemos – UFG

Estes pesquisadores desenvolvem e/ou desenvolveram algumas das mais importantes pesquisas com a espécie.

 


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Atropelamento e o lobo-guará

As estradas ainda são uma grande incógnita para a conservação do lobo. Em algumas regiões há indícios de que a espécie perde até 30% dos filhotes por atropelamento. Veja abaixo o vídeo compartilhado pelo Dr. Rogério Cunha, ao encontrar um lobo atropelado.

Dados do Sistema Urubu mostram que possuímos 62 registros de animais entre 2014 e hoje. Os estados de Minas Gerais (23 indivíduos) e São Paulo (13 indivíduos) são os mais representativos, mas há dados em nove estados brasileiros.

O mais incrível é que sete animais foram registrados dentro de unidades de conservação, sendo um no Parque Nacional da Emas.

 

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Uma história linda

Eu poderia escrever dezenas de linhas para contar a história da Lobinha, mas o vídeo abaixo vai deixar você completamente apaixonad@ por esse projeto.

O projeto de soltura da Lobinha foi um incrível sucesso. No final de 2017 a equipe de pesquisadores chegou ao grande dia, o da reintrodução. O vídeo abaixo mostra o momento exato do retorno à natureza.


Foi instalado um rádio-colar que permitiu aos pesquisadores saberem onde o animal está a cada hora.

 

A figura abaixo mostra o deslocamento da Lobinha (pontos vermelhos) durante quase 30 dias. Nesse período os pesquisadores concluíram que a Lobinha ainda buscava identificar a melhor área para viver, caminhando grandes distâncias e mudando muito de locais.

 

Um final trágico

O dia 14 de janeiro será uma data que ficará marcada na conservação da biodiversidade brasileira.

A Lobinha, depois de ser resgatada filhote em um canavial em 2016, permanecer mais de um ano em cativeiro, ser readaptada ao ambiente natural, foi encontrada morta por atropelamento.

Uma das mais incríveis pesquisas de reintrodução de grandes mamíferos brasileiros foi interrompida por um atropelamento.

Talvez alguns digam que é muito difícil parar ou desviar de um animal em uma rodovia quando estamos a 80, 90, 100km/h. Com certeza é muito difícil, principalmente à noite.

Entretanto, a Lobinha foi atropelada em uma estrada de terra, estreita, onde o fluxo de veículos é mínimo. Pode ter sido o extremo da fatalidade e da falta de sorte? Talvez, mas o fato é que ela se foi.

Esse acontecimento mostra que nossa biodiversidade corre muito mais perigo do que podemos imaginar. Quantas Lobinhas, que não tem rádio-colar, são atropeladas em estradas de terra? Quantos cachorros-do-mato, gatos-do-mato, capivaras, macacos e milhares de outras espécies?

Os dados publicados no post dos 475 milhões de animais selvagens atropelados por ano no Brasil já evidencia este fato. Nossas estradas de terra, na sua totalidade, devem matar tanto quanto as estradas pavimentadas.

 

O que podemos fazer?

O atropelamento de animais selvagens ocorre em todas as estradas brasileira, sem exceção. Não há, e nunca haverá, recursos para implantarmos medidas de mitigação em todas as estradas.

Nós devemos exigir de órgãos públicos, concessionárias de rodovias e políticos, que sejam realizados estudos de excelente qualidade técnica para que investimentos sejam bem realizados.

De nada adianta ser noticiado que passagens de fauna, redutores de velocidade, placas e outras medidas de redução de atropelamento estão sendo implantadas. Há necessidade que sejam instaladas nos locais corretos, para as espécies certas e com estudos que avaliem o antes e o depois.

Apoiar políticas públicas

Há um projeto de lei na Câmara dos Deputados (PL 466/2015), aprovado em todas as Comissões e que aguarda votação na plenária para ser encaminhado ao Senado. Você pode pressionar nossos deputados encaminhando um email.

A ONG Rede Pró-UCs criou um sistema de envio automático, basta seu nome e email para que todos os deputados saibam que você apoia o PL. Click aqui e mande seu recado.

Se tornar um parceir@ do Sistema Urubu

A outra forma é você fazendo o download do Urubu Mobile e se tornando um parceiro. Registre o maior número de animais que visualizar e mande para nós.

Você pode fazer o download nos links abaixo.

 

Após fazer o download do Urubu Mobile, faça seu cadastro para poder tirar as fotos e enviar para o Sistema Urubu.

 

 

Saiba mais

Abaixo um texto complementar sobre a conservação do lobo-guará:

Avaliação do estado de conservação do Lobo-guará