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Cientista é um bicho muito louco. Vocês ficam falando só entre vocês
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Se você não tiver paciência para ler o post todo, não deixe de ver as animações no final. Tem algumas incríveis.
A culpa é do Fernando Meirelles
Agora são exatamente 22:03h, do dia 17 de fevereiro de 2018.
Estou há algumas horas reunindo materiais para fazer um post sobre a importância de sensibilizarmos as pessoas para a causa da conservação. Aí uma coisa puxa a outra e tenho a impressão que achei o culpado por eu ter incorporado tão forte a questão da divulgação científica na minha vida.
Vou tentar explicar. Em 2015 fui convidado para dar uma palestra no Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Pouco antes da minha mesa redonda teve a apresentação do Fernando Meirelles. Eu não tinha ideia do nível de envolvimento dele com a causa ambiental e também isso não teria a menor importância.
O cara começou a palestra afirmando “Ninguém liga pro seu sapo!”.
Passado o susto ele começou a mostrar o quanto somos péssimos em engajar as pessoas na nossa causa. Toda vez que temos a oportunidade de falar para os “não letrados”, continuamos mostrando números, gráficos, estatísticas, ….
Faça a seguinte experiência. Na próxima janta em família, com todos sentados à mesa, tente manter 5 minutos de conversa sobre o resultado incrível da sua pesquisa, e que teve um p<0,0001 no teste de hipótese. ahhhh???? Quem se importa?
Exatamente, e fazemos isso toda vez que temos a oportunidade de conversar com políticos, gestores, empresários, entre outros. Algum tempo atrás li uma frase que diz tudo, Só existe UMA primeira impressão.
Voltando ao Meirelles, ele seguiu falando o quanto precisamos aprender a cativar as pessoas pelo coração. Que devemos fazer aquilo que aprendemos desde a nossa infância, contar histórias. Sim, nós contamos histórias várias vezes por dia, sobre todos os assuntos e para todas as pessoas. Contudo, somos uns chatos quando queremos convencer as pessoas a defenderem o que acreditamos.
Quando eu trabalhava com tartarugas
Quando trabalhava com a tartaruga Tigre d’água no sul do Rio Grande do Sul, percebi o quanto as diferenças de percepção influenciam na tomada de decisão. Eu trabalhava em uma área onde existiam coletores de ovos dessa tartaruga. Eles “plantavam” os ovos, aguardavam os filhotes eclodirem e vendiam por uma ninharia para traficantes. Garanto que há uma grande chance de você ter tido uma tartaruguinha na sua infância, principalmente se te mais de 30 anos. Parabéns, você certamente contribuiu com o tráfico de animais silvestres.
Um dia, era bem cedo, umas 6 da manhã, estava conversando com uma dessas pessoas que coletavam os ovos. Um homem de uns 40 anos, alto, mas obviamente muito judiado pelo tempo. Explicava para ele o que eu fazia, porque fazia e que as ações dele poderiam levar a espécie à extinção. Ele largou a caneca de alumínio com café, levantou da mesa, me pegou pela mão. Nessa hora achei que seria expulso da casa já que fomos até a porta da rua. A casa, de madeira, com frestas enormes entre as tábuas, sem luz elétrica e construída elevada do chão para fugir das enchentes, estava rodeada por umas 20 tartarugas.
Ele me olhou, falou que fazia 40 anos que morava ali. Comentou que todos os anos, durante o período de desova, a casa ficava rodeada de tartarugas diariamente. Ele não conseguia entender como que tirar uns ovos poderia estar causando algum mal.
Vamos parar um instante. Tenho certeza que você visualizou a cena toda. A caneca, talvez até a fumaça do café, meu receio de estar sendo expulso, um quintal cheio de tartarugas (por mais que isso pareça impossível na maior parte do Brasil). E isso aconteceu apenas com a leitura de poucas linhas. Imagina o poder disso se eu pudesse falar e contar sobre o cheiro, o som das tábuas, ….
Nesse momento você pode estar pensando, ahh, esse é um caso pontual, de alguém sem formação, que vive isolado. Então vamos voltar a nossa janta em família, e tenho certeza que 90% de todas as pessoas que estiverem nela não poderão te dar uma boa explicação do problema da fragmentação de habitat, da presença de espécies exóticas, do porque criar unidades de conservação é importante, e por aí vai.
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Contar histórias
Ok, e como podemos mudar isso?
Estudando a arte do storytelling. Por definição, storytelling é “a capacidade de contar histórias relevantes”. Os profissionais de marketing são os melhores nessa arte. Esse vídeo abaixo mostra um pouco das estratégias que se pode utilizar.
Existe muito material incrível para ser acessado, estudado e colocado em prática. Outro local que você não pode deixar de olhar é o TED, e não, não é o filme do ursinho promíscuo.
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