Série Monitoramento de Fauna Atropelada | Dica 2
A Série Monitoramento de Fauna Atropelada publica artigos abordando questões que recebo de profissionais e estudantes que desejam estudar os efeitos de rodovias e ferrovias na biodiversidade.
Fazem anos que discuto a importância da transformação do número de registros encontrados em cada dia de monitoramento em uma taxa de atropelamento. Felizmente tenho encontrado eco em muitos grupos de pesquisa, órgãos de licenciamento ambiental, empresas de consultoria e concessionárias de rodovia. Nas próximas linhas vou mostrar o quanto essa mudança resulta em melhor tomada de decisão.
Um breve exemplo
Considere o seguinte contexto. Você realiza 10 monitoramentos de fauna atropelada em duas rodovias distante 50km uma da outra durante três meses. Ao final deste período você totaliza os registros, tendo que o número de cachorros-do-mato atropelados foi 10 na Rodovia A e 20 na Rodovia B.
Com base neste resultado, qual rodovia teve maior mortalidade desta espécie?
Esforço amostral
Se sua empresa utiliza o número de registros como base de análise de dados, a resposta mais óbvia para a pergunta acima é que a Rodovia B tem muito mais mortes que a A. Essa lógica de pensamento é vista em dúzias de estudos de impacto ambiental e é utilizado para tomada de decisão em grandes empresas e concessões de rodovias.
A pergunta “qual rodovia teve maior mortalidade desta espécie?” deve ser seguida de uma segunda pergunta, qual a extensão de cada rodovia? Vou explicar.
Se a Rodovia A tem 100 km de extensão e a Rodovia B também tem 100km de extensão, então saberemos que a segunda possui uma taxa de atropelamento duas vezes superior, será igual a 0,02 ind./km/dia. Entretanto, se a Rodovia A tiver 100km de extensão e a B 200km, a taxa de atropelamento será idêntica, sendo 0,01 ind./km/dia.
Você pode estar pensando que nunca faz comparações entre rodovias e que este comentário não faz sentido, mas o mesmo resultado pode ser obtido para comparações realizadas em um único trecho, mas em épocas/anos distintos. Veja que no exemplo a mortalidade foi influenciada pela extensão, mas ela também é afetada pelo número de amostragens quando uma área tem mais monitoramentos que outra. Quem trabalha em campo sabe que imprevisto são o cotidiano do trabalho e que todas as amostragens são desbalanceadas. É extremamente raro que dois anos consecutivos tenham o mesmo número de monitoramentos, e neste caso o uso de número de animais é ilusório e equivocado.
Como calcular a taxa de atropelamento?
A forma mais simples de calcular a taxa é fazer a transformação dia a dia e ter a taxa de mortalidade calculada para indivíduos por quilômetro por dia (Ind./km/dia). No exemplo anterior eu dividi o total de animais (10 ou 20), pelo número de monitoramentos (10) e pela extensão em quilômetros (100 ou 200).
10 animais/ 10 amostragens / 100 km = 0,01 ind./km/dia
Biologicamente o resultado acima me indica que um cachorro-do-mato é atropelado diariamente neste trecho de rodovia (100km).
Vantagens da taxa de atropelamento
As vantagens mais óbvias do uso da taxa de atropelamento são: a comparação dos resultados de diferentes períodos e trechos, cálculos de médias e a comparação com outros estudos.
Agora, um ponto fundamental é a possibilidade de extrapolação dos dados para trechos não monitorados e durante períodos de tempo variáveis. Vou explicar.
Usando a taxa calculada acima (0,02 ind./km/dia), obtida em monitoramentos de um trecho de rodovia de 100km. De posse deste valor eu posso estimar que cerca de 7 cachorros-do-mato são atropelados por ano quilômetro por ano nesta rodovia (0,02*365).
Claro que as taxas de mortalidade podem sofrem variações por efeito da sazonalidade, fluxo de veículos, estágio de vida do animal, entre muitos outros. A taxa de atropelamento permite inúmeras análises estatísticas que estimam a variabilidade espaço temporal dos atropelamentos.
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