Atenção, animais na pista’: tecnologia IA auxilia no salvamento da fauna silvestre em estradas no Brasil

Banco de dados reconhece, por imagem, espécies que estejam nos arredores das vias

Por AFP — Rio de Janeiro, Brasil

23/04/2024 12h45  Atualizado há 6 meses

Um caranguejo morto a beira da estrada Roberto Burle Marx, na zona oeste do Rio de Janeiro
Um caranguejo morto a beira da estrada Roberto Burle Marx, na zona oeste do Rio de Janeiro — Foto: TÉRCIO TEIXEIRA/AFP

“Atenção, animal no perímetro próximo a via”. Um projeto de aplicação para condutores busca reduzir, por meio da tecnologia de Inteligência Artificial (IA), os atropelamentos da fauna silvestre no Brasil, a principal ameaça para diversas espécies vulneráveis.

No Brasil, cerca de 475 milhões de animais morrem a cada ano atropelados por automóveis, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Carreteras (CBEE) da Universidade Federal de Lavras, no estado de Minas Gerais.

O levantamento contabiliza apenas animais vertebrados, desde pássaros, anfíbios até os mamíferos. A capivara, o tatu e os gambás estão entre os mais castigados. Entre “15 e 17 animais são atropelados a cada segundo em nossas estradas. É o maior impacto direto na fauna que existe hoje no Brasil”, afirmou o coordenador do CBEE, Alex Bager.

Preocupado com essa realidade, Gabriel Souto Ferrante, estudante de mestrado em Ciências da Computação da Universidade de São Paulo (USP), desenvolve desde 2021 um sistema baseado em visão computadorizada para detectar espécies e alertar de sua presença na estrada. O projeto, realizado em conjunto com o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, foi descrito em janeiro pela revista Scientific Reports.

Identificação de espécies mais afetadas

Souto identificou as cinco espécies de tamanho médio e grande que mais morrem com atropelamentos nas estradas brasileiras. O puma, a anta, o lobo-guará e o jaguarundi, todos ameaçados de extinção, são as principais vítimas.

Ele criou uma base de dados com milhares de fotos para ensinar seu modelo de IA.

O projeto segue com inúmeras tentativas com um algoritmo de detecção de objetos em tempo real de alta precisão, chamado YOLO. Após anos de testes, os exames com imagens dos animais monitorados em movimento finalmente apresentaram resultados positivos, segundo o pesquisador.

No entanto, para a implementação desta tecnologia são necessários mais testes. É preciso acessar câmeras nas rotas e equipamentos de computação de borda, para enviar o sinal de advertência ao condutor e também à empresa concessionária, para realizar a retirada ou captura do animal.

Reduzindo danos

Para minimizar o efeito da fragmentação do habitat natural destes animais, foram implementadas no Brasil diversas estratégias, explica Bager à AFP. Apenas a sinalização tradicional na rota, que avisa da possível presença de animais, não é o suficiente para convencer os condutores, que reduzem apenas 3% a velocidade ao ver as placas.

Já os corredores ecológicos e portas verdes, que podem ser passagens por baixo ou por cima das vias, ajudam os animais a atravessarem as estradas sem risco de atropelamento. As estruturas, às vezes cobertas com vegetação, troncos e cortinas, foram pensadas para incitar os animais a passar por elas.

“As passagens são a medida de mitigação mais comum hoje no Brasil. Há também os corredores suspensos com vegetação, no Rio de Janeiro para o mico-leão-dourado e em São Paulo”, detalhou Bager. Mas essa infraestrutura é insuficiente e seu impacto é mínimo em um país de dimensão territorial gigantesca.

O especialista criou em 2014 o Sistema Urubú, uma rede social de ciência, que contou com mais de 50 mil pessoas, que relataram casos de exemplos de fauna silvestre em perigo em todo o território brasileiro. A informação coletada ajudou a criar políticas públicas e até mesmo um projeto de lei para garantir a circulação segura de animais, que aguarda votação no Congresso, afirmou.

No entanto, a falta de recursos financeiros obrigou a suspensão da plataforma no ano passado. Sem embargo, Bager não se rende e insiste em gestões para reativação.

“Cada vez temos mais rotas, mais veículos e um número de animais atropelados que provavelmente continua crescendo”, lamentou.

Fonte: O Globo 100

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