No país, 475 milhões de bichos silvestres morrem por ano nas rodovias. São 17 óbitos por segundo e 1,3 milhão por dia. Custos para a economia e para a biodiversidade poderiam ser evitados com a implementação de corredores ecológicos
(crédito: Cadu Gomes/CB/D.A Press)
Diz a Constituição Federal que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida, e que, para isso, cabe ao poder público proteger a fauna e a flora, “vedadas as práticas que provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade”. No entanto, no Brasil, 475 milhões de bichos silvestres morrem por ano nas estradas brasileiras. Isso é mais do que o dobro da população de brasileiros. São 17 mortes por segundo, 1,3 milhão por dia, como se os habitantes da cidade de Goiânia desaparecessem todos os dias.

Além de colocar em risco a existência de algumas espécies, os acidentes causados pelos atropelamentos são responsáveis por ferimentos graves e vítimas fatais entre motoristas e passageiros. Os custos, altos para a economia e muito maiores para a biodiversidade, podem ser evitados com a implementação de corredores ecológicos e passagens de fauna, redução de velocidade e a devida sinalização nas rodovias. Embora obrigadas por lei, tais medidas de mitigação nem sempre são cumpridas.
Com a pandemia do novo coronavírus, a presença da fauna em ruas e rodovias do mundo inteiro intensificou-se, inclusive, em áreas urbanas, como consequência do isolamento social e da menor quantidade de veículos em circulação. A redução no tráfego pode ter se refletido em menos acidentes, mas aumentou consideravelmente o risco, porque os bichos estão saindo mais das tocas e fazendo travessias nas estradas.
De acordo com o Observatório de Imprensa Avistamentos e Ataques de Onças (OIAA Onça) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), cerca de 90 onças são atropeladas por ano no Brasil. Na pandemia, a média, que era de 7,5 animais por mês, subiu. Em março, foram nove atropelamentos do maior felino das Américas, ameaçado de extinção. O professor da Ufam Rogério Fonseca, doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre e integrante do OIIA Onça, diz que, durante a pandemia, os grandes felinos saem mais das florestas e, no meio do caminho, deparam-se com estradas que não foram projetadas para garantir a proteção à fauna.
Fonte: Correio Braziliense