Vantagens e desvantagens de monitoramentos sistemáticos e eventuais

Série Monitoramento de Fauna Atropelada | Dica 1

A Série Monitoramento de Fauna Atropelada publica semanalmente um artigo abordando questões que recebo de profissionais e estudantes que desejam estudar os efeitos de rodovias e ferrovias na biodiversidade.

Qualificar o monitoramento de fauna atropelada é a única forma de otimizar o recurso investido em prol da redução do maior impacto ambiental direto da presença de infraestrutura viária na biodiversidade. No decorrer das últimas duas décadas tenho realizado pesquisa com fauna atropelada em vários estados brasileiros e auxiliado pesquisadores de outros países em amplificar os resultados obtidos em seus respectivos países.

Um monitoramento bem delineado deve ter começo, meio e fim, deve ter perguntas a serem respondidas e deve ter como um de seus resultados a avaliação do impacto sobre uma ou mais espécies e sua consequente proposição de estratégias de mitigação. 

O foco de um monitoramento de fauna atropelada não deve estar em localizar os hotspots (áreas de agregação) de atropelamentos, isso é apenas um dos objetivos, o foco deve estar em avaliar o impacto da perda de indivíduos para a viabilidade da(s) população(ões) afetada(s).

Monitoramento sistemático x eventual

Quase a totalidade dos monitoramentos realizados por estudos de monitoramento de fauna selvagem focados em licenciamento são sistemáticos e precisam ser. 

Monitoramento é chamado de sistemático quando realizado durante um determinado período de tempo e com procedimentos que se repetem a cada dia de campo. Por exemplo, o monitoramento é realizado semanalmente, percorrendo o mesmo percurso de 43 km, a uma velocidade média de 40km/h, tendo um membro da equipe responsável por localizar e registrar as carcaças.

Monitoramentos não sistemáticos ou eventuais não obedecem essa lógica e coletam registros a qualquer momento quando se está trafegando na rodovia. Um exemplo seria o fato de você realizar monitoramentos sistemáticos toda segunda-feira e continuar registrando alguns animais que forem atropelados em outros dias da semana.

Outro exemplo é comum em unidades de conservação onde todos os membros da equipe registram animais atropelados quando os encontram. Veja que nestes casos não se respeita as regras do monitoramento sistemático pois há uma equipe variável, a velocidade pode ser maior ou menor do que a do protocolo e o percurso pode ser de poucos quilômetros entre duas bases da unidade.

Vantagens e desvantagens de cada monitoramento

Você pode estar se perguntando, quais as diferenças de resultados entre os dois métodos? Total, os dados coletados são completamente distintos, veja algumas variações:

  • Taxa de atropelamento: um dos principais pontos que distingue amostragem sistemática e eventual é a impossibilidade da obtenção da taxa de atropelamento pelo segundo método. Na verdade, mesmo o número de indivíduos encontrados atropelados não é possível de ser comparado entre dias, rodovias, … devido não conhecermos o esforço amostral.
  • Tendenciosidade: é normal que amostragens eventuais sejam tendenciosas porque as pessoas registram mais mamíferos, animais de grande porte ou espécies do seu interesse particular, em detrimento de anfíbios, gambás e pequenas aves.
  • Áreas críticas (hotspots) de atropelamento: existem artigos que mostram o potencial dos dados eventuais para a identificação de áreas críticas de atropelamento. Essa é uma excelente forma de usar os dados eventuais, desde que sejam abundantes e sejam coletados por um tempo considerável. Uma forma de auxiliar no mapeamento de áreas críticas no Brasil é o uso do Sistema Urubu e, mais recentemente, do U-Safe para enviar fotos georeferenciadas de animais atropelados nas rodovias.

Quando usar cada um dos monitoramentos?

Sempre que você desejar informações comparáveis no espaço e/ou no tempo o monitoramento sistemático deverá ser utilizado. Contudo, se você não possui recursos ou uma equipe que pode se comprometer com coletas contínuas, inicie pelo monitoramento eventual com o maior número possível de pessoas auxiliando nas coletas.

Onde obter mais informação?

Se você deseja saber mais sobre este ou outros assuntos relacionados a infraestrutura viária e biodiversidade sugiro busque outros posts ou mesmos os textos técnico/científicos que compartilho aqui no BAB.

Caso você tenha interesse em conhecer mais sobre métodos de estudos relacionados à infraestrutura viária e biodiversidade sugiro a leitura do meu livros. Saiba mais como adquirí-los clicando aqui

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